sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"S.E.S"

Coisas fora do papel.

   A vida é feita de “ses”. Se ontem fosse hoje, se hoje fosse ontem, se amanhã fosse depois. Quando penso (ou se é que eu penso) que a vida é feita de “ses”, acho-me dentro dos olhos do eu. Pois/ feroz verossimilhança verossímil vero similar de um gado que não seja verídico/ deveras as pessoas não poderão se contentar com os “ses” somente do hoje, pois senão os jogos seriam ao menos previsíveis...e  eles não gostam disso.
     Ou quem pode saber, idaí? Ditaduras da alma do ser inerente e a parte das letras... O mundo chamará sempre mais pessoas que não se contentarão em serem somente colírios e colírias; literatas, físicos, matemáticos, historiadores, filósofos, artistas, revolucionários, românticos, cientistas, coro, legião. E “ses” eu (pequeno que sou) matasse os monstros e desbravasse novos horizontes, e “ses” eu fizesse revoltas porque não concordasse com os arrochos de meu tempo, e “ses” eu tivesse o poder de mudar as concepções de arte, a política, verdades que antes se diziam absolutas. A lei perfeita e imperfeita das coisas.
     Quero demais. (Pensando bem, não ouso querer para não perturbar o sono do dragão que dorme de olhos abertos). Queremos mais, juntos iremos conseguir tudo nesta e em outras vidas. Como vemos esses ramos de tulipas, bromélias, alecrins, cravos que florescem no jardim da janela aberta são muito mais do que aparentam ser; ilusões dióticas do oriundo mundo das ideias de Platão. Então, longe de mim para tentar comprovar isso (muito menos cineticamente) mas... fica aí a pergunta: -Existem outros?
     Não possuímos, outros possuem, não possuem e voltam a ter o desejo de ter... de ser o Homo sapiens sapiens. O borrão de tinta roxa na alma é um laranja tão arrochado que chega a se tornar um amarelo invisível que conseguimos ver. Mas, como podemos ver se não sabemos certamente o que enxergar? Paixão calada, amor inocente, metáforas velhas de um doido que sabe. Sabe, sabia, saberei; saberástes dizer o que você acha que sabe e um dia seco de primavera não saberá mais? Convida-me para entrar em teu oráculo escuro, quero experimentar tua respiração, teus sentimentos claros e obscuros para mim. Quero o remédio para me curar do mal que ainda virá.
     Todavia ainda tenho medo! O grito estampado em Munch pede-me para senti-lo em meu corpo... Ele, ou apenas parte dele, me assombra e me alumbra com a sua luz negra. Não tenho medo do vampiro que vem sugar todo meu sangue, ... , contudo tenho fobia do mal inesperado e também do bem esperado / Isso me dá aflição. Não gosto do martírio do ser; poderia escrever coisas infestadas de atrozes goticidades e fazer letras banhadas em sangue nu, o que daria um belo romance policial, mas isso não seria bom e sensato. Quero ser mais redondo. Quero ser como o sol que engrandece.
     Mas não sei se posso (ou ao menos não sei se devo). Angústia apalpável do ser que é e que não foi... Sinta-me, oh “Livro dos Prazeres”, sinto que estou lendo Freud... Ele fala que você já nasce com três males pré-determinados; o de envelhecer, o de saber viver e conviver com o meio; e o de aprender a conviver com o outro; o outro de mim será o eu ou será o ele? Essa cultura pop intrometida se mescla com a cultura erudita atrometida dos tempos. Os outros consomem tantas coisas que não precisam consumir; ideias, paradigmas, conceitos, moral, aborto, mensagens, coisas supérfluas na feira do capitalismo perambulante que ruge ferozmente como uma galinha.
     Os conceitos de hoje estão mudando (volto a falar), não sei se é por causa dos outros que querem ter o prazer de “controlar” as mentes alheias a partir das famosas mensagens subliminares. Deveras...há, para quem ainda não se ligou somos controlados e “adestrados” por outros e outras já em nosso calmo tempo de infância. Nos dias atuais; nos programas lindos infantis (tão meigos que fazem chorar de alegria); em propagandas dos mais variados gêneros; em músicas bobas; quadros... Nosso cérebro pode ser corrompido. Os nossos rápidos sentidos não percebem, ou ao menos se distraem com outras coisas bobas, mas nossa massa cefálica decodifica o que eles querem. Apologia ao sexo; símbolos ou gestos satânicos; homossexualidade; uso de drogas; conceitos de moral e/ou imoralidade; e lógico, se preferir, outras coisas de caráter apelativo... E assim almas com pré-disposição se afloram e isso, chamo de escravidão inocente.
     Os outros têm de acompanhar o andamento da carruagem para não serem mais uns foras do contexto das coisas. Pois bem, acho que era um tigre que eu avistei ontem na serra, ou um leopardo que parecia um tigre (queria se vestir de tigre; tinha olhos, boca, patas, pelo; mas não era um). Se você não quer ser o que você é, para que existir? Por qual causa, motivo, razão ou circunstância você tem de se maquiar com coisas que não gosta? Liberte-se da nova ditadura do ser. Mas eles acham que não, acham aquilo que não sei o que é ser o achamento do achar ainda que ninguém o ache.
     Penso logo existo (essa é uma frase clichê, eu sei) alguns dizem por aí que falo sozinho, acredito que apenas penso alto. Você não pode se dar ao luxo de observar e refletir calado sobre as coisas – tu tens que abrir portas – mas para isso precisamos encontrar a(s) chave(s) mesmo que elas sejam imateriais. Acho admirável essa enxurrada de coisas novas que estamos aprendendo nas escolas... <decerto estou eu a falar de escolas da vida, sem desmerecer aquelas de quatro paredes somente que também contribuem para abrirmos as portas> acho que muitas das pessoas têm o mínimo de duas profissões, já nascem com o desejo oculto de serem professores(as) e com o outro de serem aquilo que querem ser. Ora, desde que nascemos, temos alguém que nos ensina a dar nossos primeiros passos, a falar as nossas primeiras palavras, a pintarmos as nossas primeiras cores, logo, temos o desejo de passar isso para frente... Isso é a verdadeira educação, a lição que não se encontra nos livros didáticos.
     Como vemos, temos que pensar demais, querer demais nessa vida (mas não ousamos querer para não acordarmos os dragões que dormem de olhos abertos)... <E “ses” fosse assim e não assado?>. Doido eu... mas isso é uma história para um outro dia!



                                                   Davi Dumont Farace 27/11/2010.  

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